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Where the world comes to study the Bible

6. A Justiça De Deus

Introdução

A Justiça de Deus, um dos mais importantes atributos de Deus nas Escrituras, é também o mais difícil de definir. Inicialmente distinguir a justiça de Deus da Sua santidade ou Sua bondade parece difícil. Em adição, a justiça de Deus é virtualmente sinônimo com Sua justiça:

Enquanto no Velho Testamento a mais comum palavra para correto significa “direito” a palavra no Novo Testamento significa “igual”, num sentido moral ambos significam “certo”. Quando dizemos que Deus é correto, estamos dizendo que Ele sempre faz o que é certo, o que deveria ser feito, e que Ele o faz consistentemente, sem parcialidade ou preconceito.

A palavra correto e a palavra justo são idênticas em ambos no Velho Testamento e no Novo Testamento. Algumas vezes os tradutores interpretam a palavra original “correto” e outras vezes “justo” sem alguma razão aparente (ver Neemias 9:8 e 9:33 onde a mesma palavra é usada). Porém qualquer palavra que seja usada significa essencialmente a mesma coisa. Tem a ver com as ações de Deus. Elas sempre são certas e justas.

A justiça de Deus é a expressão natural da Sua santidade. Se Ele é infinitamente puro, então Ele deve ser oposto ao pecado, e a oposição ao pecado deve ser demonstrada em Seu tratamento com Suas criaturas. Quando lemos que Deus é reto ou justo, somos assegurados que Suas ações relacionadas a nós estão em perfeita concordância com Sua natureza santa.1

Estas palavras de Richard Strauss nos trazem bem perto a uma definição concisa de justiça. Justiça, em relação aos homens, é sua conformidade a um padrão. Ao contrário dos homens, Deus não está sujeito a qualquer coisa fora de Si próprio. Ninguém declara isto melhor do que A. W. Tozer:

Algumas vezes se diz: “Justiça requer Deus fazer isto” referindo-se a algum ato que sabemos que Ele irá fazer. Isto é um erro de pensamento assim como de falar, pois implica um princípio de justiça fora de Deus o qual O compele agir de certa forma.

Naturalmente não existe tal princípio. Se houvesse ele seria superior a Deus, pois somente um poder superior pode compelir obediência. A verdade é que não há e não pode haver qualquer coisa fora da natureza de Deus a qual pode movê-Lo no mínimo grau. Todas as razões de Deus vêm de dentro de Seu ser não criado. Nada entrou o ser de Deus da eternidade, nada foi tirado e nada mudou.

Justiça, quando usada em relação a Deus, é um nome que damos para a forma que Deus é, nada mais; e quando Deus age com justiça Ele não está fazendo assim para se ajustar a um critério independente, porém simplesmente agindo por Ele mesmo numa dada situação... Deus é Seu próprio auto-existente princípio de equidade moral, e quando Ele condena os ímpios ou recompensa os justos, Ele simplesmente atua por Ele mesmo de dentro Dele, não influenciado por qualquer coisa que não seja Ele mesmo.2

Devemos dizer então que a justiça de Deus é evidente na forma que Ele consistentemente atua de acordo com Seu próprio caráter. Deus sempre age com justiça; cada ação Sua é consistente com o Seu caráter. Deus é sempre consistentemente “Divino”. Deus não é definido pelo termo “justo”, desde que o termo “justo” é definido por Deus. Deus não é medido pelo padrão de justiça; Deus estabelece o padrão de justiça.

Abraão e a Justiça de Deus (Gênesis 18:16-33)

23 - E chegou-se Abraão, dizendo: Destruirás também o justo com o ímpio? 24 - Se porventura houver cinquenta justos na cidade, destruirás também, e não pouparás o lugar por causa dos cinquenta justos que estão dentro dela? 25 - Longe de ti que faças tal coisa, que mates o justo com o ímpio; que o justo seja como o ímpio, longe de ti. Não faria justiça o Juiz de toda a terra? 26 - Então disse o SENHOR: Se eu em Sodoma achar cinquenta justos dentro da cidade, pouparei a todo o lugar por amor deles. 27 - E respondeu Abraão dizendo: Eis que agora me atrevi a falar ao Senhor, ainda que sou pó e cinza. 28 - Se porventura de cinquenta justos faltarem cinco, destruirás por aqueles cinco toda a cidade? E disse: Não a destruirei, se eu achar ali quarenta e cinco. (Gênesis 18:23-28)

A justiça de Deus é introduzida muito cedo na Bíblia nos capítulos iniciais do Livro de Gênesis. Este atributo é a base para o apelo de Abraão a Deus pelas cidades de Sodoma e Gomorra.

Deus é descrito antropomorficamente (em termos semelhante a humanos) aqui como tendo ouvido o “clamor de Sodoma e Gomorra” (versículo 20). Eu imagino de quem veio este clamor. Uma provável possibilidade é “o justo Ló, cujo coração justo estava enfadado da vida dissoluta dos homens abomináveis destas cidades” (ver II Pedro 2:6-8)

Nos termos jurídicos de nossos dias, Deus não estava querendo agir somente na base do boato. Era Sua intenção “descer” para este lugar e ver Ele mesmo se estas alegações eram verdadeiras. Agora naturalmente sabemos que Deus é onisciente.

Ele sabe todas as coisas. Ele não precisa “fazer uma viagem para Sodoma e Gomorra” para ver se estas cidades eram realmente ímpias. Ele sabia que elas eram ímpias. Porém, do nosso ponto de vista, Deus quer que saibamos que Ele age de modo justo. Ele atua baseado na informação da qual Ele tem conhecimento pessoal. Então, quando Deus julga estas cidades, Ele o faz tão justamente por elas serem verdadeiramente ímpias.

Acho interessante que os versos 17-21 antecedem a narração da intercessão de Abraão por estas cidades. Deus sabia o que Ele iria fazer. O que Ele se propôs a fazer era reto e justo. Porém Deus quis que Abraão fosse uma parte do que Ele estava fazendo.

Se Deus ia agir com justiça, Ele ia simplesmente agir consistentemente com Seu caráter. Envolvendo, porém Abraão foi também consistente com Seu acordo com ele e com o objetivo deste acordo. O propósito de Deus em chamar Abraão e fazer um acordo com ele está escrito nos versículos 17-19:

17 - E disse o SENHOR: Ocultarei eu a Abraão o que faço, 18 - Visto que Abraão certamente virá a ser uma grande e poderosa nação, e nele serão benditas todas as nações da terra? 19 - Porque eu o tenho conhecido, e sei que ele há de ordenar a seus filhos e à sua casa depois dele, para que guardem o caminho do SENHOR, para agir com justiça e juízo; para que o SENHOR faça vir sobre Abraão o que acerca dele tem falado. (Gênesis 18:17-19)

O propósito de Deus em chamar Abraão e fazer um acordo ele foi para Abraão manter o caminho do Senhor fazendo o que é bom e justiça e para ensinar a sua descendência a fazer o mesmo. Justiça é o objetivo divino para Abraão e sua descendência.

Quando Deus informou Abraão que Ele estava pronto para destruir as cidades de Sodoma e Gomorra, Abraão começou a interceder por elas. Sua preocupação era pelos justos naquela cidade. Como Deus poderia possivelmente destruir estas cidades se havia homens e mulheres justas nelas?

Se Deus destruísse ambos os ímpios e os justos sem distingui-los, então Deus não estaria agindo com justiça ou justamente. E certamente Deus, como “o Juiz de toda a terra”, deve agir com justiça (versículo 25).

Abraão começa a interceder com Deus a favor dos justos. Começando com 50 justos, Abraão pediu a Deus para não destruir estas cidades se 50 justos fossem achados. Eventualmente Abraão foi capaz (assim parece) de baixar o número requerido dos justos até o número de 10 (versículo 32).

Porém simplesmente não havia dez justos nestas cidades. Havia apenas 4 (se incluirmos a esposa de Ló). Porém Deus, em Sua justiça não iria lidar com o ímpio de uma forma que punisse o justo também. Ele não poupou as cidades de Sodoma e Gomorra, porém Ele poupou Ló e sua família resgatando-os da cidade de Sodoma antes dos anjos as destruírem.

Quando vemos no Livro de Gênesis o propósito de Deus em chamar Abraão e sua descendência: para criarem um povo caracterizado pela retidão e justiça. Deus não somente Se mostrou ser reto e justo, Ele também trabalhou na vida de Abraão para mostrar que ele era um homem que amava a retidão e a justiça.

A Justiça de Deus e a Nação de Israel

A justiça de Deus era para ser vista em cada relacionamento Seu com a nação de Israel:

6 - Então disse Samuel ao povo: O SENHOR é o que escolheu a Moisés e a Arão, e tirou a vossos pais da terra do Egito. (I Samuel 12:7) - Agora, pois, ponde-vos aqui em pé, e pleitearei convosco perante o SENHOR, sobre todos os atos de justiça do SENHOR, que fez a vós e a vossos pais. (I Samuel 12:6-7)

A justiça de Deus em Seu relacionamento com a nação de Israel tem várias manifestações.

(1) Deus revela Sua justiça revelando Sua vontade e Sua palavra para o mundo através da nação de Israel.

5 - Vedes aqui vos tenho ensinado estatutos e juízos, como me mandou o SENHOR meu Deus; para que assim façais no meio da terra a qual ides a herdar. 6 - Guardai-os pois, e cumpri-os, porque isso será a vossa sabedoria e o vosso entendimento perante os olhos dos povos, que ouvirão todos estes estatutos, e dirão: Este grande povo é nação sábia e entendida. 7 - Pois, que nação há tão grande, que tenha deuses tão chegados como o SENHOR nosso Deus, todas as vezes que o invocamos? 8 - E que nação há tão grande, que tenha estatutos e juízos tão justos como toda esta lei que hoje ponho perante vós? (Deuteronômio 4:5-8; veja também Salmos 33:4)

Deus lida com os homens na base do que Ele revelou para eles. Ele frequentemente fala para os homens o que Ele fará bem antes do acontecimento assim eles saberão que Deus é Deus e que Ele cumpriu o que Ele prometeu:

21 - Anunciai, e chegai-vos, e tomai conselho todos juntos; quem fez ouvir isto desde a antiguidade? Quem desde então o anunciou? Porventura não sou eu, o SENHOR? Pois não há outro Deus senão eu; Deus justo e Salvador não há além de mim. (Isaías 45:21)

O que Deus não revelou não precisa ser conhecido (veja Deuteronômio 29:29) Tudo o que é necessário para “vida e piedade” tem sido revelado para nós (veja II Pedro 1:4) assim estamos totalmente equipados (II Timóteo 3:14-17).

(2) Deus revela Sua justiça instruindo os homens em Sua palavra.

8 - Bom e reto é o SENHOR; por isso ensinará o caminho aos pecadores. (Salmos 25:8)

Frequentemente estas instruções vieram através dos sacerdotes levitas (Levítico 10:11: Deuteronômio 24:8; Neemias 8:9; II Crônicas 17:7-9) ou através dos profetas como Moisés (Deuteronômio 4:1,5, 14; Êxodo 18:20)

(3) Deus revela Sua justiça cumprindo Suas promessas.

7 - Tu és o SENHOR, o Deus, que elegeste a Abrão, e o tiraste de Ur dos caldeus, e lhe puseste por nome Abraão. 8 - E achaste o seu coração fiel perante ti, e fizeste com ele a aliança, de que darias à sua descendência a terra dos cananeus, dos heteus, dos amorreus, dos perizeus, dos jebuseus e dos girgaseus; e confirmaste as tuas palavras, porquanto és justo. (Neemias 9:7-8)

(4) Deus revela Sua justiça julgando os inimigos de Israel.

27 - Então Faraó mandou chamar a Moisés e a Arão, e disse-lhes: Esta vez pequei; o SENHOR é justo, mas eu e o meu povo ímpios. (Êxodo 9:27)

13 - Ante a face do SENHOR, porque vem, porque vem a julgar a terra; julgará o mundo com justiça e os povos com a sua verdade. (Salmos 96:13)

Deus também Se mostra ser justo quando Ele julga a nação de Israel pelos seus pecados e desobediência:

1 - SUCEDEU que, havendo Roboão confirmado o reino, e havendo-se fortalecido, deixou a lei do SENHOR, e com ele todo o Israel. 2 - E sucedeu que, no quinto ano do rei Roboão, Sisaque, rei do Egito, subiu contra Jerusalém (porque tinham transgredido contra o SENHOR) 3 - Com mil e duzentos carros e com sessenta mil cavaleiros; e era inumerável o povo que vinha com ele do Egito, de líbios, suquitas e etíopes. 4 - E tomou as cidades fortificadas, que Judá tinha; e chegou até Jerusalém. 5 - Então veio Semaías, o profeta, a Roboão e aos príncipes de Judá que se ajuntaram em Jerusalém por causa de Sisaque, e disse-lhes: Assim diz o SENHOR: Vós me deixastes a mim, por isso também eu vos deixei na mão de Sisaque. 6 - Então se humilharam os príncipes de Israel, e o rei, e disseram: O SENHOR é justo. (II Crônicas 12:1-6)

15 - Ah! SENHOR Deus de Israel, justo és, pois ficamos qual um remanescente que escapou como hoje se vê; eis que estamos diante de ti, na nossa culpa, porque ninguém há que possa estar na tua presença, por causa disto. (Esdras 9:15)

7 - A ti, ó Senhor, pertence a justiça, mas a nós a confusão de rosto, como hoje se vê; aos homens de Judá, e aos moradores de Jerusalém, e a todo o Israel, aos de perto e aos de longe, em todas as terras por onde os tens lançado, por causa das suas rebeliões que cometeram contra ti. 8 - Ó Senhor, a nós pertence a confusão de rosto, aos nossos reis, aos nossos príncipes, e a nossos pais, porque pecamos contra ti. (Daniel 9:7-8)

(5) Deus revela Sua justiça na forma que Ele governa.

6 - O teu trono, ó Deus, é eterno e perpétuo; o cetro do teu reino é um cetro de equidade. (Salmos 45:6) – 14 - Justiça e juízo são a base do teu trono; misericórdia e verdade irão adiante do teu rosto. (Salmos 89:14, veja também Salmos 97:2).

(6) Deus revela Sua justiça em Sua raiva e em Sua ira.

5 - O SENHOR prova o justo; porém ao ímpio e ao que ama a violência odeia a sua alma. (Salmos 11:5) – 11 - Deus é juiz justo, um Deus que se ira todos os dias. (Salmos 7:11)3

(7) Deus revela Sua justiça em Sua proteção ao pobre e aflito.

12 - Sei que o SENHOR sustentará a causa do oprimido, e o direito do necessitado. (Salmos 140:12; veja também Salmos 12:5; 116:6 abaixo).

(8) Deus revela Sua justiça quando Ele mostra misericórdia e compaixão.

5 - Piedoso é o SENHOR e justo; o nosso Deus tem misericórdia. 6 - O SENHOR guarda aos símplices; fui abatido, mas ele me livrou. (Salmos 116:5-6)

18 - Por isso, o SENHOR esperará, para ter misericórdia de vós; e por isso se levantará, para se compadecer de vós, porque o SENHOR é um Deus de equidade; bem-aventurados todos os que nele esperam. (Isaías 30:18)

(9) Deus revela Sua justiça ao salvar os pecadores.

2 - O SENHOR fez notória a sua salvação, manifestou a sua justiça perante os olhos dos gentios. 3 - Lembrou-se da sua benignidade e da sua verdade para com a casa de Israel; todas as extremidades da terra viram a salvação do nosso Deus. (Salmos 98:2-3)

11 - Ele verá o fruto do trabalho da sua alma, e ficará satisfeito; com o seu conhecimento o meu servo, o justo, justificará a muitos; porque as iniquidades deles levará sobre si. (Isaías 53:11)

Creio ser este um aspecto significativo da justiça de Deus. Deus é justo ao salvar os pecadores. Frequentemente pensamos na justiça de Deus ser revelada em Seu julgamento dos pecadores e Sua misericórdia pela Sua salvação dos pecadores.

As Escrituras ensinam que a justiça de Deus é a causa de ambas: condenação e justificação. Ele é justo ao salvar os pecadores, assim como misericordioso e compassivo. Deus é justo em todo o Seu lidar com os homens, certamente em todo o Seu lidar.

A retidão de Deus e a justiça de Deus não são assuntos secundários; elas são primários. A retidão ou justiça de Deus é para ser o princípio guia para o povo de Deus. Quando os profetas do Velho Testamento procuraram resumir a essência do ensino do Velho Testamento em relação à conduta do homem, foi que os homens pratiquem a retidão ou justiça:

21 - Odeio, desprezo as vossas festas, e as vossas assembleias solenes não me exalarão bom cheiro. 22 - E ainda que me ofereçais holocaustos, ofertas de alimentos, não me agradarei delas; nem atentarei para as ofertas pacíficas de vossos animais gordos. 23 - Afasta de mim o estrépito dos teus cânticos; porque não ouvirei as melodias das tuas violas. 24 - Corra, porém, o juízo como as águas, e a justiça como o ribeiro impetuoso. (Amós 5:21-24)

6 - Com que me apresentarei ao SENHOR, e me inclinarei diante do Deus altíssimo? Apresentar-me-ei diante dele com holocaustos, com bezerros de um ano? 7 - Agradar-se-á o SENHOR de milhares de carneiros, ou de dez mil ribeiros de azeite? Darei o meu primogênito pela minha transgressão, o fruto do meu ventre pelo pecado da minha alma? 8 - Ele te declarou, ó homem, o que é bom; e que é o que o SENHOR pede de ti, senão que pratiques a justiça, e ames a benignidade, e andes humildemente com o teu Deus? (Miquéias 6:6-8)

Ao resumir o que a verdadeira essência da Lei do Velho Testamento era, Amós e Miquéias ambos falaram primeiro de justiça e retidão. Deus não está interessado na manutenção legalista da Lei, como se alguém pudesse se fazer reto assim procedendo. Deus está interessado nos homens procurando conhecer o coração de Deus e Lhe agradando fazendo aquilo que Lhe agrada e aquilo que Ele faz.

A Justiça de Deus no Novo Testamento

Se retidão e justiça são o coração da Lei do Velho Testamento, elas também estão no coração da disputa entre Jesus e os escribas e Fariseus.4 Logo no início do Seu ministério terreno, Jesus começou a contrastar Sua interpretação do Velho Testamento ensinando retidão com o ensino dos escribas e Fariseus.

Realmente, Jesus não ofereceu uma “nova” interpretação de retidão ou da Lei; ao contrário Ele procurou reestabelecer o entendimento correto de retidão como ensinado na Lei e os Profetas.

Então, Jesus repetidamente usou a fórmula, “Vocês ouviram dizer...” (“Isto é o que os escribas e os Fariseus ensinam...”) “Porém Eu digo para vocês...” (“Pois o Velho Testamento pretende ser entendido desta forma...”)

Os escribas e os Fariseus pensavam em eles mesmos serem os padrões de retidão. Eles achavam que eles, de todos os homens, eram retos. Jesus chocou a todos quando Ele disse:

20 - Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no reino dos céus. (Mateus 5:20)

Estava claro que se os escribas e os Fariseus não podiam produzir retidão suficiente eles próprios, ninguém poderia. O padrão de retidão que a Lei estabeleceu era ainda mais alta do que aquela dos escribas e Fariseus. Ninguém era reto o suficiente para entrar no céu. Que choque para os auto retos que pensavam que tinham assento no reino.

Se Jesus chocou Sua audiência quando Ele falou que aqueles que pareciam ser mais retos não iriam entrar no reino com o seu tipo de retidão, Ele também os chocou com quem seriam os “abençoados” pela entrada no reino: aqueles que os escribas e os Fariseus achavam indignos do reino.

Os abençoados não eram os escribas e Fariseus, porém “o pobre de espírito”, aqueles que “choram”, os “mansos”, “aqueles que têm fome e sede de justiça”, os “misericordiosos”, os “puros de coração”, os “pacificadores” e aqueles que forem “perseguidos” por causa do seu relacionamento com Jesus (Mateus 5:3-12).

Jesus ensinou que a verdadeira retidão não é aquela a qual os homens julgam como reta baseada nas aparências externas, porém que são julgadas por Deus baseadas na Sua avaliação do coração:

15 - E disse-lhes: Vós sois os que vos justificais a vós mesmos diante dos homens, mas Deus conhece os vossos corações, porque o que entre os homens é elevado, perante Deus é abominação. (Lucas 16:15)

Os escribas e os Fariseus, que pensavam em si mesmos como retos por causa da sua atenção rigorosa às coisas externas, provaram justamente o contrário quando julgados pelo nosso Senhor:

28 - Assim também vós exteriormente pareceis justos aos homens, mas interiormente estais cheios de hipocrisia e de iniquidade. 29 - Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Pois que edificais os sepulcros dos profetas e adornais os monumentos dos justos, 30 - E dizeis: Se existíssemos no tempo de nossos pais, nunca nos associaríamos com eles para derramar o sangue dos profetas. 31 - Assim, vós mesmos testificais que sois filhos dos que mataram os profetas. 32 - Enchei vós, pois, a medida de vossos pais. 33 - Serpentes, raça de víboras! Como escapareis da condenação do inferno? 34 - Portanto, eis que eu vos envio profetas, sábios e escribas; a uns deles matareis e crucificareis; e a outros deles açoitareis nas vossas sinagogas e os perseguireis de cidade em cidade; 35 - Para que sobre vós caia todo o sangue justo, que foi derramado sobre a terra, desde o sangue de Abel, o justo, até ao sangue de Zacarias, filho de Baraquias, que matastes entre o santuário e o altar. (Mateus 23:28-35)

No Sermão do Monte, Jesus advertiu contra as aparências e o cerimonialismo.

1 - GUARDAI-VOS de fazer a vossa esmola diante dos homens, para serdes vistos por eles; aliás, não tereis galardão junto de vosso Pai, que está nos céus. (Mateus 6:1)

De acordo com Jesus, a retidão é muito diferente da retidão dos escribas e Fariseus. Falsa retidão é medida pelos homens na base da aparência externa. A verdadeira retidão é julgada por Deus, de acordo com a Sua Palavra.

Por causa disto, os homens precisam se acautelar de tentar julgar a retidão dos outros (veja Mateus 7:1) Aqueles cujas ações parecem indicar que eles são justos são aqueles os quais Deus negou sempre terem conhecidos como Suas crianças (Mateus 7:15-23). Aqueles que pareciam ser justos não eram, e aqueles que não pareciam ser justos pelo Judaísmo daqueles dias podem muito bem terem sido justos.

Não é de se admirar então que Jesus não foi considerado justo por muitos dos Judeus, porém foi considerado um pecador:

16 - Então alguns dos fariseus diziam: Este homem não é de Deus, pois não guarda o sábado. Diziam outros: Como pode um homem pecador fazer tais sinais? E havia dissensão entre eles. ...24 - Chamaram, pois, pela segunda vez o homem que tinha sido cego, e disseram-lhe: Dá glória a Deus; nós sabemos que esse homem é pecador. 25 - Respondeu ele pois, e disse: Se é pecador, não sei; uma coisa sei, é que, havendo eu sido cego, agora vejo. (João 9:16, 24-25)

A grande divisão que surgiu entre os Judeus foi sobre a questão se Jesus era um homem justo ou um pecador (veja João 10:19-21)

O Velho e o Novo Testamento não deixam dúvidas em nossas mentes se o Senhor Jesus era justo. O profeta Isaías falou do esperado Messias como o “Justo” o qual “justificará a muitos” (Isaías 53:11).

Jeremias falou sobre Ele como o “Renovo justo” (Jeremias 23:5). Quando Jesus foi batizado, foi para “cumprir toda justiça” (Mateus 3:15). Ambos, a esposa de Pilatos (Mateus 27:19) e o soldado aos pés da cruz (Lucas 23:47) reconheceram Sua retidão no mesmo momento quando os homens O estavam condenando.

Os apóstolos da mesma forma sustentaram o testemunho da retidão de Cristo:

1 - MEUS filhinhos, estas coisas vos escrevo, para que não pequeis; e, se alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o justo. (I João 2:1)

29 - Se sabeis que ele é justo, sabeis que todo aquele que pratica a justiça é nascido dele. (I João 2:29)

A justiça de Deus é particularmente importante em relação à salvação. Em Romanos 3, Paulo afirma que Deus não somente justifica os pecadores (isto é, Ele os declara justos), porém Ele é também mostrado ser justo (reto) no processo:

21 - Mas agora se manifestou sem a lei a justiça de Deus, tendo o testemunho da lei e dos profetas; 22 - Isto é, a justiça de Deus pela fé em Jesus Cristo para todos e sobre todos os que creem; porque não há diferença. 23 - Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus; 24 - Sendo justificados gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus. 25 - Ao qual Deus propôs para propiciação pela fé no seu sangue, para demonstrar a sua justiça pela remissão dos pecados dantes cometidos, sob a paciência de Deus; 26 - Para demonstração da sua justiça neste tempo presente, para que ele seja justo e justificador daquele que tem fé em Jesus. 27 - Onde está logo a jactância? É excluída. Por qual lei? Das obras? Não; mas pela lei da fé. 28 - Concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé sem as obras da lei. (Romanos 3:21-28)

Os homens falharam em viver os padrões da justiça colocados pela Lei (Romanos 3:9-20). Deus é justo ao condenar todos os homens à morte, pois todos os homens sem exceção pecaram e carecem da glória de Deus (Romanos 3:23) . Todos os homens são merecedores da morte por que o “salário do pecado é a morte” (Romanos 6:23). Deus é justo ao condenar o injusto.

Porém Deus é também justo em salvar os pecadores. Como Paulo colocou, Ele é “justo e o justificador daquele que tem fé em Jesus Cristo” (Romanos 3:26). Como pode ser isto? Deus é justo porque Sua justa ira foi satisfeita. Justiça foi feita na cruz do Calvário.

Deus não reduziu as acusações contra os homens; Ele não mudou os padrões de justiça. Deus derramou toda a medida da Sua ira justa sobre o Seu Filho na cruz do Calvário.

Nele a justiça foi cumprida. Todos aqueles que confiam Nele pela fé são justificados. Seus pecados são perdoados porque Jesus pagou todo o preço; Ele sofreu toda a medida da ira de Deus em seus lugares.

E para aqueles que rejeitam a bondade e misericórdia de Deus no Calvário devem pagar a penalidade pelos seus pecados porque eles não aceitam o pagamento que Jesus fez em seus lugares.

A cruz do Calvário cumpriu a justa salvação, para todos aqueles que a receberem. Porém nos também sabemos que somente aqueles a quem Deus escolheu – os “eleitos” – se arrependerão e confiarão na morte de Cristo em seu lugar.

Isto levanta outra questão relacionada com a justiça divina. Após claramente ensinar a doutrina da eleição divina, Paulo pergunta como a eleição se enquadra com a justiça de Deus, e então ele dá a resposta:

6 - Não que a palavra de Deus haja faltado, porque nem todos os que são de Israel são israelitas; 7 - Nem por serem descendência de Abraão são todos filhos; mas: Em Isaque será chamada a tua descendência. 8 - Isto é, não são os filhos da carne que são filhos de Deus, mas os filhos da promessa são contados como descendência. 9 - Porque a palavra da promessa é esta: Por este tempo virei, e Sara terá um filho. 10 - E não somente esta, mas também Rebeca, quando concebeu de um, de Isaque, nosso pai; 11 - Porque, não tendo eles ainda nascido, nem tendo feito bem ou mal (para que o propósito de Deus, segundo a eleição, ficasse firme, não por causa das obras, mas por aquele que chama), 12 - Foi-lhe dito a ela: O maior servirá o menor. 13 - Como está escrito: Amei a Jacó, e odiei a Esaú.

14 - Que diremos, pois? Que há injustiça da parte de Deus? De maneira nenhuma. 15 - Pois diz a Moisés: Compadecer-me-ei de quem me compadecer, e terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia. 16 - Assim, pois, isto não depende do que quer, nem do que corre, mas de Deus, que se compadece. 17 - Porque diz a Escritura a Faraó: Para isto mesmo te levantei; para em ti mostrar o meu poder, e para que o meu nome seja anunciado em toda a terra. 18 - Logo, pois, compadece-se de quem quer, e endurece a quem quer.

19 - Dir-me-ás então: Por que se queixa ele ainda? Porquanto, quem tem resistido à sua vontade? 20 - Mas, ó homem, quem és tu, que a Deus replicas? Porventura a coisa formada dirá ao que a formou: Por que me fizeste assim? 21 - Ou não tem o oleiro poder sobre o barro, para de a mesma massa fazer um vaso para honra e outro para desonra? 22 - E que direis se Deus, querendo mostrar a sua ira, e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita paciência os vasos da ira, preparados para a perdição; 23 - Para que também desse a conhecer as riquezas da sua glória nos vasos de misericórdia, que para glória já dantes preparou, 24 - Os quais somos nós, a quem também chamou, não só dentre os judeus, mas também dentre os gentios? (Romanos 9:6-24)

A questão assume que a eleição divina foi ensinada por Paulo como um fato bíblico. Se não fosse assim – como claramente ela é – a questão não teria sido levantada por Paulo.

E se não há tal coisa como a eleição, Paulo poderia simplesmente ter varrido a questão de lado como ilógica e insensata. Porém Paulo assume a verdade da eleição e a possibilidade de que alguns possam objetar baseados em que a eleição tornaria Deus injusto.

Paulo repreende primeiro aqueles que têm coragem de julgar Deus e opinarem em Sua justiça. Quão prepotente o homem pode ser? Deus deveria ficar diante do tribunal do julgamento humano? Naturalmente que não.

Como visto no capítulo 3, Deus é justo ao condenar todos, e em Cristo, aqueles os quais são justificados foram punidos e levantaram para novidade de vida. Deus também é justo ao julgar todos aqueles os quais recusam aceitar Sua oferta de salvação em Cristo.

Deus seria injusto somente se Ele coloca-se de lado a justiça ao invés de realizá-la em Cristo, se pela Sua morte sacrificial na Sua primeira vinda ou pelo Seu julgamento do mundo incrédulo na Sua segunda vinda.

A graça Divina, a graça pela qual Deus vem para salvar os homens dos seus pecados, é distribuída não na base dos méritos dos homens, porém apesar dos pecados dos homens. Graça, como mostraremos depois, enfatizada em outra mensagem, é soberanamente outorgada.

Deus seria injusto somente se Ele retivesse as bênçãos dos homens as quais eles merecessem. Desde que Deus é livre para dar bênçãos não merecidas para qualquer pecador que Ele possa escolher, Deus não é injusto ao salvar alguns dos piores pecadores, enquanto escolhendo não salvar outros pecadores. Deus não está devendo salvação para qualquer um, e então Ele não é injusto em salvar alguns e escolher não salvar outros.

As boas novas do evangelho é que a salvação pela graça é oferecida para todos os homens, e pela justiça de Jesus Cristo, os homens podem ser perdoados de seus pecados e tornados justos:

20 - De sorte que somos embaixadores da parte de Cristo, como se Deus por nós rogasse. Rogamos-vos, pois, da parte de Cristo, que vos reconcilieis com Deus. 21 - Àquele que não conheceu pecado, o fez pecado por nós; para que nele fôssemos feitos justiça de Deus. (II Corintios 5:20-21)

Conclusão

Se pecado é a manifestação de nossa falta de retidão e nós só podemos ser salvos através da retidão não nossa – a retidão de Cristo – então o supremo pecado é a auto-retidão. Jesus não rejeita pecadores que se chegam a Ele para misericórdia e salvação;

Ele rejeitou aqueles que eram muito retos (aos seus próprios olhos) para precisarem da graça. Jesus veio para salvar os pecadores e não salvar aqueles retos aos seus próprios olhos.

Ninguém é tão perdido para ser salvo; existem somente aqueles muito bons para serem salvos. Nos Evangelhos, aqueles que pensaram serem muito retos foram aqueles condenados pelo nosso Senhor como ímpios e não retos.

Se estamos entre aqueles que têm reconhecido nosso pecado e confiamos na retidão de Cristo para nossa salvação, a justiça de Deus é uma das grandes e confortantes verdades que deveríamos abraçar.

A justiça de Deus significa que quando Ele estabelecer Seu reino na terra, ele será um reino caracterizado pela justiça. Ele julgará os homens em retidão, e Ele reinará em retidão.

Não precisamos nos preocupar com o ímpio de nossos dias que parecem estar se arranjando com o pecado. Se amarmos a retidão, devemos certamente não invejar o ímpio, cujo dia de julgamento espera por eles(ver Salmos 37;73). Seu dia de julgamento está rapidamente chegando sobre eles, e a justiça prevalecerá.

Se entendermos que a verdadeira retidão não é para ser julgada de acordo com os padrões externos, legalistas e que o julgamento pertence a Deus, devemos não nos ocupar em julgar os outros (Mateus 7:1).

Devemos também entender que julgamento começa na casa de Deus, e, portanto devemos nos apressar em nos julgarmos e evitarmos aqueles pecados que são uma ofensa para a justiça de Deus (Veja I Pedro 4:17; I Coríntios 11:31).

A doutrina da justiça de Deus significa que nós, como filhos de Deus (se somos Cristãos), devemos procurar imitar nosso Pai celeste. Devemos não procurar nos vingar contra aqueles que pecam contra nós, porém deixar a vingança para Deus (Romanos 12:17-21).

Ao invés de procurar revidar, vamos sofrer a injustiça dos homens, assim como nosso Senhor Jesus, que Deus pode até trazer nossos inimigos ao arrependimento e salvação (Mateus 5:43-44; I Pedro 2:18-25). E vamos orar como nosso Senhor nos ensinou:

10 - Venha o teu reino, seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu; (Mateus 6:10)


1 Richard L. Strauss, The Joy of Knowing God, (Neptune, New Jersey: Loizeaux Brothers, 1984), p. 140.

2 A. W. Tozer, The Knowledge of the Holy, pp. 93-94.

3 Quando Deus está com raiva, Ele também é justo. A Bíblia não nos ensina, “Não tenham raiva, e então pequem”. Ao invés ela ensina que há ocasiões que deveríamos ter raiva (como Deus), porém não deixar que nossa raiva leve ao pecado. Existe a raiva justa, a qual não é pecado. Algumas vezes nós pecamos por não ficarmos com raiva por causa do pecado.

4 veja por exemplo, Mateus 23; Lucas 16;15; Filipenses 3;1-11.

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